Sem desperdício
Lei permite doação de refeições não vendidas
A condição é que os mantimentos estejam dentro da validade; cerca de 30% de tudo que é produzido no mundo é perdido
Jô Folha -
*Atualizada às 18h06min para acréscimo de informações.
O presidente Jair Bolsonaro, sancionou nesta quarta-feira (24) uma lei que autoriza estabelecimentos como bares e restaurantes a doarem os alimentos que não forem vendidos. As doações, segundo a proposta, precisarão estar dentro do prazo de validade e próprias para consumo humano. Em Pelotas, os empresários que conversaram com a reportagem se mostraram contentes com a nova determinação, entretanto informaram que se organizam para não haver desperdícios.
No ramo há 17 anos, Alex Martins só trabalha com refeições a la carte, o que ajuda a não ocorrer grandes sobras. "A gente acaba produzindo conforme a demanda", explicou. A única refeição que acaba dando alguma margem para desperdício é o feijão, mas mesmo assim em pequenas quantidades. Porém, Martins garante que é adepto à lei e questiona como seria possível o seu estabelecimento contribuir com a nova prática, já que o mais importante é ajudar as pessoas em situação de vulnerabilidade.
Já o restaurante do Rafael Conceição trabalha com inúmeras opções no buffet. Com a pandemia da Covid-19, o local foi reaberto no último dia 19 e uma nova rotina precisou ser adaptada. Agora, quem serve os clientes são duas funcionárias. Apesar da grande quantidade de comida produzida as perdas também são mínimas, já que o local tem conhecimento e prática do que é consumido diariamente. Conceição lembra que os funcionários também almoçam lá e tudo isso é contabilizado. "E o que realmente sobra já temos o hábito de auxiliar um senhor, não só com alimentos, mas também com materiais de reciclagem", contou. Mesmo não sabendo da nova lei, o empresário deixou o recado: "Quem tem sobras deve contribuir".
Marinheiro de primeira viagem, como ele próprio se definiu, Maicon Santos também é proprietário de um buffet na área central da cidade, desde dezembro do ano passado. Por lá, todo cuidado é pouco. Ele relata que muitas vezes o cliente chega a esperar ele colocar a refeição na cuba. "Depois do alimento exposto temos duas opções: consumir ou ir pro lixo", explicou. Contente ao saber da nova determinação, ele destaca a importância de ajudar alguém sabendo que não está infringindo uma lei. Antes da pandemia, o local contabilizava mais desperdícios, agora, com menos movimento está sendo possível controlar melhor a situação. "A preocupação sempre foi o que fazer com o pós buffet, agora já sabemos", destacando que se houver um serviço que transporte para esse alimento seria ainda melhor. 
 
A disponibilidade da SAS
O secretário de Assistência Social do município, Marcio Sedrez, garante que os restaurantes que optarem por doar os alimentos que sobram poderão acionar a Secretaria. "Estas doações serão muito bem-vindas, usaremos no espaço destinado aos moradores de rua, hoje situado no colégio Pelotense", completou. Outro ponto destacado por Sedrez é que os empresários que escolherem destinar esses alimentos à SAS poderão contar com uma serviço de transporte que será disponibilizado para arrecadar e fazer a devida distribuição.
Os números no mundo
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), todos os anos, cerca de 30% de tudo que é produzido no mundo é perdido ou desperdiçado. Isso representa, aproximadamente, 1,3 bilhão de toneladas de comida que vai para o lixo. As perdas ocorrem geralmente nas fases de produção, armazenamento e transporte e correspondem a 54% do total. Já o desperdício, que consiste em 46% do montante, está ligado aos hábitos dos consumidores e presente nas vendas.
Lançada pela FAO, Embrapa e WWF-Brasil, no final de 2016, a campanha #SemDesperdício tem o objetivo de aproximar o tema à vida dos brasileiros e gerar um impacto positivo na mudança de hábitos do consumo alimentar. De acordo com o relatório de 2017 elaborado pelo grupo, o Brasil ocupa uma posição incômoda quanto às perdas e desperdício de alimentos. As evidências indicam que o país alia características de países subdesenvolvidos no início da cadeia, tais como elevada perda pós-colheita e no escoamento da produção, com hábitos de consumo mais presentes em países ricos, caracterizados por concentrar o desperdício no final da cadeia. Na pesquisa mais recente da FAO, focada nos países da América Latina e Caribe, estima-se que 28% de todas as perdas ocorrem na etapa de produção e outros 28% são perdidos no final da cadeia.
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